Quem vai descobrir o segredo de Michelangelo?
por Thomas Brezina
2. Quem é Madusa?
Pablo puxa o ar e espirra com força. Aflito, fareja o local onde há pouco se encontrava a mulher misteriosa. Seu dono desce as escadas usando um par de pantufas velhas e puxando as fivelas dos largos suspensórios da calça de veludo, que cobre sua barriga roliça.
O homem dá um breve sorriso para você e se inclina para segurar o cão pela coleira. Então, também parece sentir o aroma adocicado de rosas, e as suas grossas sobrancelhas cinzentas juntam-se no meio da testa, como uma escova. Lentamente, o homem se apruma e olha estrada baixo.
Com ar interrogativo, dirige-se a você:
- Viu uma mulher aqui? Uma mulher com o rosto e as unhas verdes?
Ela era exatamente assim.
O homem percebe o seu olhar, que continua voltado para o telhado. Dá alguns passos e olha para cima.
O dragão, imóvel e pétreo, ergue-se contra o céu.
Encostado em sua perna, Pablo rosna zangado. Um ronco intenso vai crescendo no peito dele e, de repente, explode num latido agitado. Pablo começa de novo a ganir, alto o suficiente para assustar ate um cão dos infernos. Dessa vez, o rangido que se ouve é agudo e meio chiado, como o golpe de uma enorme espada.
O dragão de pedra abre as asas ameaçadoramente, e da sua bocarra salta, como um chicote, uma língua longa e fina. Cheio de raiva e fúria, ele se inclina bem para a frente, na direção de Pablo, gemendo e grunhindo. Uivando, Pablo se esconde atrás das suas pernas e espia amedrontado por entre elas.
Você sente o homem agarrando o seu braço. Ele puxa você em direção à entrada e dá a Pablo uma ordem brusca, que nem teria sido necessária. O cão corre encolhido à frente de vocês dois.
Sob o telhado do portal, vocês encontram proteção contra o que acontece em seguida. Pedras pequenas são atiradas aos montes do edifício e caem na calçada. O dragão não cospe fogo como seus colegas das lendas, mas cospe pedras. As pedrinhas ricocheteiam sobre o calçamento quEBranDo-se em mil FraGmenTos, que espirram para todos os lados.
- Rápido, para dentro!
O homem empurra você pela porta e, depois, a bate com força. O estrondo ecoa pelo salão de colunas em que vocês se encontram.
- Não tenha medo, não vou fazer nada de mau com você! - garante o homem, enquanto puxa um pesado banquinho de madeira, encostando-se embaixo de uma janela alta e estreita.
- O meu nome é Tonatelli, e sou dono deste museu.
Ofegante, ele sobe no banquinho, que range com o seu peso. Pablo coloca as patas sobre outro banquinho, convidando você a fazer a mesma coisa que o dono do museu. O cãozinho quer que você o erga, para que ele também possa olhar para fora.
- Madusa disse algo sobre a câmara secreta e os sete lacres? - quer saber o senhor Tonatelli.
Sim, a mulher disse.
Tonatelli passa as mãos sobre a barriga redonda.
- Eu também ouvi falar disso. Mas é uma lenda. Só pode ser uma lenda. Todo o resto é absolutamente impossível.
A chuva de pedra na frente do museu cessou.
- Você não pode contar a ninguém o que viu! - exige Tonatelli. - Senão os visitantes podem se afastar. Não é o que eu quero.
Hesitante, ele desce do banquinho e sai andando, balançando a barriga.
Pablo liberta-se dos seus braços para ir atrás dele. Depois de alguns passos, o cachorro para e bate com as patas dianteiras no chão, para chamar a atenção. É para vocês segui-los.
Sem se virar uma única vez, o senhor Tonatelli percorre rapidamente um corredor, passando ao lado de altas portas de madeira. Elas estão abertas e mostram pequenas e grandes salas do museu.
Numa delas, esta pendurado o quadro mais famoso do mundo, a Mona Lisa, pintado por Leonardo da Vinci. Ela ergue a mão e acena para você!
Num outro salão, sobre uma parede forrada de vermelho, estão pendurados quadros com molduras douradas, representando o rosto de diversos homens.
O segundo da direita para a esquerda é Michelangelo.
Apesar de parecer um grande urso, Tonatelli corre rápido escada acima ate o primeiro andar, e depois para o segundo. Sua intenção é chegar a uma sala redonda, com estantes que cobrem as paredes do chão até o teto. Ele anda em círculos, procurando algo, e, então, bate palmas três vezes.
- Michelangelo - diz ele.
Ele parece estar chamando um papagaio fugido.
Mas nenhuma ave aparece voando. O que surge é um livro. Ele não voa, mas cai da prateleira mais alta. O senhor Tonatelli o apanha como um goleiro faria com uma bola de futebol.
- Para trás! Saiam do caminho! - ele adverte você e Pablo.
Respeitosamente, ele coloca o livro sobre um apoio inclinado de madeira entalhada. Respira fundo e abre-o. Imediatamente, o recinto se enche com o som forte de ferramentas batendo em pedra. Pequenos pedaços de mármore branco saltam do livro. Como se surgisse das profundezas, algo aparece das paginas amareladas e envelhecidas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário